Durante três anos, enquanto pároco da Paróquia de Santo Antônio (Arquidiocese de São Luís-MA) fui agente da Pastoral da Pessoa Idosa - PPI, e além das visitas, unção dos enfermos e comunhão aos doentes, eu acompanhava 10 idosos mensalmente. Durante as visitas, conversávamos, rezávamos e às vezes nos distraíamos com alguns assuntos aleatórios. Aos poucos fui percebendo a situação de isolamento e abandono em que alguns viviam; falta de higiene, alimentação inadequada, alguns já diziam que não viam a cor do dinheiro deles, que empréstimos eram feitos em seu nome e o que sobrava não dava para comer e nem para os remédios. Relembrando esse tempo da minha vida e diante da situação de 'caos' que se instalou em nosso país atualmente, uma pergunta nos interpela: Como estão vivendo ou sobrevivendo os nossos idosos? Quem está cuidando, convivendo e zelando por eles? Será que estão tendo orientação médica regular? Alimentação em horários adequados?
O atual cenário é outro, com estas perguntas e tentando respondê-las, vamos nos deparar com uma dura realidade. Muitos dos nossos idosos vivem de forma desumana, solitários, e muitas vezes abandonados pelos próprios filhos em casas, apartamentos e asilos, ou aos 'cuidados' de um cuidador(a).
Acredito que contam o tempo à espera de um filho, um amigo que possa chegar a qualquer momento para lhe fazer companhia, abraçar, cuidar.
O isolamento social proposto, hoje é uma condição ainda mais dura para eles, pois já vivem em um isolamento diário e no anonimato. Para uns não falta moradia, comida, medicação, mas falta afeto, carinho, respeito, atenção, vida familiar, momentos de lazer. Para outros falta tudo!
Alguém que lhes ame e lhes compreenda, que os façam sentir importantes e úteis apenas pelo fato de existir
Quanta solidão, quanto sofrimento, quanta dor sentem e como faz falta na vida desses idosos a presença daqueles a quem tanto deram amor: um filho, uma filha, um neto, uma neta, um sobrinho, uma sobrinha, até mesmo um amigo. Alguém que lhes ame e lhes compreenda, que os façam sentir importantes e úteis apenas pelo fato de existir. Pois, eles acham que não são mais importantes porque deixaram de produzir, de contribuir com o desenvolvimento da sociedade, mas não esqueçamos o quanto eles se dedicaram, trabalharam e fizeram bem para a sociedade.
É preciso reconhecer que nada substitui o carinho, o amor, o cuidado de um filho, de uma filha. Que nenhum profissional de saúde, melhores cuidadores, melhor moradia, alimentação ou medicamentos caros, presentes dados nas festividades não substituirão, se no dia a dia nos tornamos ausentes de sua história de vida. Diante disso, podemos refletir que a situação cruel que vivem muitos de nossos idosos, acelera o seu processo de morte, contribuem para a infelicidade e para a solidão. Por isso, cuidemos, amemos enquanto há tempo.
Tive a graça de conhecer pessoas que deixaram tudo para cuidar de seus pais, e outros que adotaram idosos, cuidaram com tanto zelo e quando estes partiram, o sentimento que ficou foi de gratidão pela vida e por ter cumprido sua missão, dedicando tempo, cuidado para com aqueles que lhes amaram primeiro. Amenizemos a dor e o sofrimento dos nossos idosos, dediquemos um pouco mais de atenção, conversando, orando, brincando. Pois tudo isso é necessário e faz com que eles possam reviver, e tenham mais gosto pela vida e esperança.
Santa Ana e São Joaquim, Rogai por nós!
Pe. Admilson de Jesus
Diocese de Xingu-Altamira- PA
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