A jovem Antônia Flávia Silva, de 25 anos, participou nesta quarta-feira (23), de uma live no perfil do Vatican News no Facebook. Ela faz parte da diretoria da Associação Comunitária dos Moradores de Piquiá de Baixo, no Maranhão, que sofre com os impactos da siderurgia e ferrovia locais: “as pessoas estão clamando é por socorro, porque a gente não aguenta mais viver num lugar onde não se respira bem, onde meu filho não pode fazer aquilo que eu fiz quando eu era criança. Mas a gente tem que ter força e pensar muito em Deus, porque se não fosse Deus, nada seria.”
Andressa Collet - Cidade do Vaticano
A Associação Comunitária dos Moradores de Piquiá de Baixo é uma realidade que nasceu para dar voz a um dos bairros do município de Açailândia, no Maranhão. Antônia Flávia Silva, uma jovem de 25 anos e com dois filhos, faz parte da diretoria – formada por uma maioria de mulheres – que representa cerca de mil pessoas. Na Europa, Flávia tem levado o nome e o trabalho da Associação em busca de apoio em favor das 350 famílias que sofrem com os impactos da siderurgia e ferrovia locais. Além da Itália, ela esteve com representantes da ONU, em Genebra, pedindo limites para o avanço da mineração.
A história de Piquiá de Baixo
Há mais de 30 anos, as famílias têm sido afetadas pela exploração do minério que tem impactado diretamente na saúde das pessoas com os resíduos tóxicos ligados à extração. Em larga escala, a mineração provoca deslocamentos forçados das famílias, mortes, doenças, contaminação do ar, da água e do solo.
Para mudar essa realidade os moradores resolveram se unir em associação, criada em 2008 com o apoio da Igreja e o objetivo de reivindicar um reassentamento coletivo num novo local, livre da contaminação.
“Eu só estou aqui respondendo pela comunidade por conta dessas pessoas que não podem estar, porque lá tem muitos moradores que já são idosos e tem muitas crianças. E as crianças têm o direito de ser criança, de brincar. Elas estão ali, mas muitas vezes não estão com o pensamento como eu tinha: eu não enxergava Piquiá como um lugar poluído, que as empresas nos causavam muito impacto, que quem estava morrendo por problema de saúde era por conta desse problema das empresas. Então, é por eles que eu participo dessa luta, sendo mulher, sendo jovem, sendo mãe.”
A esperança tem novo nome: Piquiá da Conquista
A Associação serve de modelo internacional de organização popular e é conhecida como “símbolo de esperança”, disse Pe. Dario Bossi, há 10 anos em missão no Brasil. De fato, os Missionários Combonianos tem tomado uma posição clara sobre o assunto no país, ao se comprometer em ajudar as famílias em busca de uma alternativa urgente e possível à extração do minério.
Isso porque o reassentamento coletivo, desenhado pelos próprios moradores e que até já tem novo nome, “Piquiá da Conquista”, pode ser barrado a qualquer momento. O projeto já foi aprovado, mas ainda não conquistou o direito de conclusão da obra que seria a construção das casas, em local afastado da poluição, a cerca de 8 Km de Piquiá de Baixo.
“ Eu sou uma representante que em vários momentos pensei em desistir, mas quando eu penso nos meus filhos e no meu pai, eu me torno uma pessoa forte. A gente está cansado de tanta conversa. As pessoas estão clamando é por socorro, porque a gente não aguenta mais viver assim num lugar onde a gente não respira bem, onde meu filho não pode fazer aquilo que eu fiz quando eu era criança. Mas a gente tem que ter força e pensar muito em Deus, porque se não fosse Deus, nada seria.