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Auto de Natal – O Pastor, muitas histórias se contam para celebrar o Natal

Contar histórias e lendas, transmitindo a tradição cultural de um povo, vem sendo, a cada dia, mais importante para a vida das pessoas



Texto e fotos Euzimar Jesus Rosa*

Comunicação Paulinas


Na história do país, há os historiadores profissionais, que contam as trajetórias culturais anguladas ou reconfiguradas mediante os contextos de cada época ou momento. Na vivência popular, temos os exemplos de pais que passam conhecimentos para os filhos através da oralidade, ou seja, o ato de contar as vivências do dia a dia por meio dos fatos ou dos acontecimentos que fizeram parte dos enredos das tradições dos seus antepassados.


História nada diferente da que foi vivenciada e narrada pela senhora Zenaide Soares Abrantes, conhecida popularmente pelo nome de Zeninha, com 74 anos de idade. Professora aposentada, ensaiadora e coordenadora do “Auto Natalino – O Pastor” e outras tantas brincadeiras dançantes na região de Gepuba, pertencente ao município de Guimarães, no estado do Maranhão. O “Auto Natalino – O Pastor” é uma tradição que veio de Portugal, chegando com os portugueses que desbravaram a Vila de São José, hoje Guimarães (MA).


Auto de Natal


Zenaide Soares Abrantes afirma: “É festa para o Menino Deus – O Emanuel! Para a festa ser bonita e atrair o público, é necessário começar os trabalhos bem cedo, isto é, por volta do mês de setembro”.


A Vila de Guimarães é o quinto município maranhense, fundado em 19 de janeiro de 1758 pelos portugueses, e ainda hoje preserva alguns traços da cultura dos séculos XVIII, XIX e XX, e alguns desses traços culturais estão bastante reconfigurados nessas mais de duas décadas do século XXI. Uma dessas tradições bastante antigas é a encenação do “Auto Natalino – O Pastor”.


Auto Natalino – O Pastor

Uma brincadeira de entretenimento no ciclo das festas de Natal, com características marcantes de cunho religioso/bíblico e personagens da cultura popular do convívio regional, nacional e de outros países. O enredo principal, o primeiro ato, é o nascimento do Menino Jesus e a visita dos Reis Magos e dos pastores que aparecem para saudar o Menino Deus – o Emanuel. O enredo secundário, ou seja, o segundo ato, envolve personagens das mais diversas culturas.


O Auto Natalino reúne cinco peculiaridades típicas regionais, sendo elas: a dança, a música, a produção textual, a expressão corporal/vocal e o espaço da teatralidade. A tradição antiga perdura até os dias de hoje como entretenimento artístico das festividades de fim de ano e do começo de um ano novo.


Dona Zeninha herdou o dom de ensaiadora (coordenadora) do Auto de Natal da senhora Laura Silva Soares, sua mãe. A tradição cultural acontece em várias localidades do município de Guimarães (MA), em outros municípios maranhenses e também na capital, São Luís, com uma encenação forte na celebração de Reis.




Passo a passo do “Auto Natalino – O Pastor”

Zeninha afirma que o “Auto Natalino – O Pastor” é uma atividade muito trabalhosa, requer tempo, pesquisa e atenção com todos os detalhes que serão mostrados durante as sete noites de apresentação.


É preciso ter maviosidade em tudo, para dar harmonia, delicadeza, sintonia e beleza ao espetáculo. É festa para o Menino Deus – O Emanuel! Para a festa ser bonita e atrair o público, é necessário começar os trabalhos bem cedo, isto é, por volta do mês de setembro. Primeiramente, com o convite sendo feito pessoalmente às famílias para cederem suas filhas e filhos para participarem da brincadeira. No mês de outubro, começam os ensaios com marcações de cena, cantos, falas dos personagens, gestos e atuação de cada personagem, que prosseguem até próximo à estreia do Auto de Natal… Os meses de novembro e dezembro são destinados à produção de vestimentas e adereços, por exemplo, a cenografia do palco e as marcações do espaço para as apresentações e o cenário central que fica no fundo do palco, muitos são reproduzidos em grandes lonas a partir de cópias dos cartões de Natal”, destaca a coordenadora.


Cartões de Natal

Uma tradição ainda bem-aceita na região de Guimarães (MA) é o envio de cartões de Natal em papel durante as festividades natalinas, tradição que causa gosto e alegria àqueles que os recebem. Muitos dos cartões que as famílias recebem e guardam em antigos álbuns fotográficos têm a marca da Paulinas Editora.


Fazer o “Auto de Natal – O Pastor” “é um trabalho que tem custo financeiro alto, muitas famílias realizavam a tradição natalina como uma forma de pagar promessa por alguma graça alcançada junto ao Menino Deus, o Emanuel”, comenta dona Zenaide.


O tempo natalino nas comunidades de Guimarães (MA) ainda é vivido em um clima de muita fraternidade. E o “Auto de Natal – O Pastor” serve também para trazer as pessoas para dentro do ciclo da amizade, do carinho, do amor e do respeito, principalmente os idosos, que, na maioria das vezes, não recebem nenhuma assistência social ou motivação no seu dia a dia para envelhecer com qualidade de vida. Mas todas as pessoas gostam da apresentação. Quem vê pela primeira vez nunca mais esquece. Rememorar é um ato de fazer a vida pulsar nas veias do corpo e da alma, como comenta, feliz, dona Zenaide.


O espetáculo é apresentado durante sete noites de festança natalina; começa no dia 24 de dezembro, à meia-noite em ponto, no dia de Natal, a partir das 20 horas, e assim prossegue na véspera e no dia do Ano-Novo e na véspera e no Dia de Reis, e o término acontece no último final de semana do mês de janeiro.


“Produzir o ‘Auto de Natal – O Pastor’ é uma expressão de alegria e felicidade. Deus é maravilhoso em nossa vida, afinal, estamos rememorando e celebrando a sua história de amor com a humanidade – o nascimento do seu Filho, Jesus de Nazaré”, finaliza a professora aposentada e ensaiadora de Natal Zenaide Soares Abrantes.



*Euzimar Jesus Rosa é jornalista, ator, pesquisador do Grupo de Estudos em Comunicação, Mídia, Direitos Humanos e Estratégia de Combate ao Trabalho Escravo no Maranhão (GETECOM). Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães (IHGG), promotor, colaborador e divulgador da Paulinas Livraria de São Luís (MA).

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