“Territórios livres das cercas, dos trilhos e do agronegócio”. Esse é o tema da 14ª Romaria da Terra e das Águas do Maranhão e que foi amplamente difundido durante o Seminário Regional de preparação para a grande romaria que será realizada nos dias 02 e 03 de agosto, de Santa Inês a Pindaré, na diocese de Viana.
O Seminário Regional foi realizado entre os dias 7 e 9 de junho, na casa de retiro Oásis, em São Luís, e contou com a participação de mais de 100 pessoas, representantes das 12 dioceses, pastorais e organismos convidados e parceiros do Regional Nordeste 5 da CNBB.
Participaram ainda os bispos: dom Gilberto Pastana, arcebispo de São Luís do Maranhão e presidente do Regional Nordeste 5; dom Valdeci Santos Mendes, bispo da diocese de Brejo e referencial para as pastorais sociais e presidente da Comissão para Ação Sociotransformadora da CNBB; dom Evaldo Carvalho, bispo da diocese de Viana e referencial para o CIMI; e dom Sebastião Duarte, bispo da diocese de Caxias.
“Para nós é de suma importância a mobilização de todo regional, de todo Maranhão para que, de fato, a nossa voz possa ressoar diante das injustiças e que possamos assim gritar e fortalecer os nossos territórios para que sejam livres, livres das cercas, livres do agronegócio e livres dos trilhos. Todos juntos e juntas nessa grande caminhada, nessa grande romaria do povo de Deus”, afirmou dom Valdeci Santos.
Onde estamos?
O Seminário Regional foi pautado na metodologia do Ver, Julgar e Agir. A abertura do Seminário contou com uma mística que envolveu a apresentação das águas dos rios que banham o estado do Maranhão, e uma benção da água feita pelos bispos e aspersão dos presentes.
Em seguida, partiu-se para o “Ver”, através de uma mesa redonda composta por membros da Comissão da Pastoral da Terra (CPT) e da Justiça nos Trilhos que mostraram dados da realidade maranhense sobre a questão da terra (cercas), dos trilhos, e do agronegócio. Ao final, os epíscopos presentes foram contemplados com um exemplar do caderno de conflitos do campo elaborado pela CPT Nacional.
Ainda no primeiro dia do Seminário, os participantes foram divididos em grupos para refletir sobre os casos concretos e os impactos provocados no território maranhense. Para sintetizar as reflexões, dr. Guilherme Zagallo, advogado e um dos assessores do seminário, pontuou luzes sobre os elementos apresentados pela assembleia.
O que queremos?
O segundo dia foi baseado no método “Julgar”, tendo como assessores o padre Francisco Aquino Júnior, presbítero da diocese de Limoeiro do Norte (CE); e Martha Bispo, secretária executiva do Regional Nordeste 5.
“Estamos refletindo o sonho de Deus para a humanidade, de uma terra livre, uma terra onde as pessoas possam viver com dignidade, com liberdade”, afirmou padre Francisco Aquino.
Martha Bispo abordou a profundidade do testemunho do profeta Amós, de onde vem a inspiração para o lema da 14ª Romaria: “Vou plantá-los no seu chão, de modo que nunca mais sejam arrancados de sua terra”. Amós, que de um pastor de ovelhas que cultivava sicômoros (figos) em Técua, Judá, tornou-se o profeta da justiça social.
O que faremos?
Para finalizar a metodologia, o último dia do seminário foi dedicado ao “Agir”. Neste sentido, foi possível reconhecer quais são os principais desafios que impedem o desenvolvimento de uma ecologia integral, com respeito e cuidado com a natureza e os povos, e traçar metas para alcançá-los.
Portanto, o que, de fato, a Igreja Católica no Maranhão quer plantar com essa Romaria? A Igreja Católica no Maranhão acredita que ser Igreja é ser presença, é ser uma Igreja profética e solidária no meio dos povos.
Cartilha de encontros comunitários
Para melhor preparar as comunidades, o Regional Nordeste 5, através da equipe de articulação das Pastorais Sociais/Repam preparou um subsídio de encontros para serem feitos em comunidade, em família ou nos grupos.
O subsídio traz sete encontros de reflexão com partilha da palavra e histórias verídicas de casos ocorridos no Estado do Maranhão, que dará aos participantes uma visão de como a Igreja pode contribuir com o bem viver dos povos.
Padre Rozivaldo, coordenador de pastoral da diocese de Viana, contribuiu com a elaboração de um dos encontros. Para ele, a Romaria da Terra e das Águas tem o objetivo de não deixar morrer a profecia, de ser uma caminhada de fé, de esperança, uma caminhada profética e realizar esse grito nos nossos dias de hoje.
“O encontro sobre os territórios da baixada maranhense tem o objetivo de fazer com que todos os homens e mulheres ouçam, meditem, sintam o grito daquele povo, daquela gente. É um grito que manifesta e externa a realidade dos problemas ambientais e da desigualdade social da nossa região, uma das regiões mais pobres do nosso estado”, declaou padre Rozivaldo.
Carta da Igreja no Maranhão
Como proposta de gesto concreto, os participantes concordaram na elaboração de uma mensagem, fruto desse Seminário, que vai ser elaborada pela equipe de coordenação juntamente com os epíscopos com as propostas apresentadas neste Seminário. Após finalizada, a mesma deverá ser amplamente divulgada por todas as Igrejas particulares do Maranhão.
O Reino de Deus é vida
No entanto, a pergunta que ainda pode adejar é o que a Igreja tem a ver com toda essa situação. Padre Aquino responde:
“A missão da Igreja é a mesma de Jesus: fazer com que o reino de Deus aconteça. E o reino de Deus é vida é liberdade, é condição de vida, e isso que vem acontecendo pelos grandes projetos do agronegócio das grandes empresas divide as comunidades, concentra terra e envenena a terra, agride as pessoas, destrói o modo de vida dos territórios, e é por isso que a Igreja no seguimento de Jesus precisa, como diz Papa Francisco escutar os gritos da terra e dos pobres. Precisa fazer ecoar a sua voz e se comprometer para defender os territórios, para defender a vida e a dignidade do povo do Maranhão”, finalizou.
A 14ª Romaria da Terra e das Águas é organizada pela equipe de Articulação das Pastorais Sociais/Repam, sendo representada por Martha Bispo, Adriana Aleixo, José Matias Ramos, Jean Araújo e Irmã Alessandra.
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